EMMANUEL ROBLES
1914/1995
"O autor poderia ter situado o assunto desta pela peça na antiguidade
romana, na Espanha de Fellipe II, na França da Ocupação,
etc. Aliás, hesitou bastante. O que o fez decidir-se pela época
da Independência sul-amaricana foi, simplesmente, o fato de que certos
trabalhos sobre a história das jovens
repúblicas latinas,
realizados paralelamente, já o mantinham na atmosfera. Não
se deve, por causa disso, considerar todos os fatos agrupados em torno do
assunto principal como rigorosamente conformes à verdade histórica,
. O autor preocupou-se menos em respeitar essa verdade histórica
do que em tornar perceptível o que permanece autêntica é
a selvageria espanhola. Lembremos, por exemplo, que o verdadeiro Molres
se comprazia em fazer esquartejar seus prisioneiros; que Antonanzas se reservava
o prazer de estripar mulheres grávidas e costumava enviar aos amigos
cixas cheias de mãos decepadas. Que o autêntico Zuazola brincava
de furar os olhos dos inimigos com lancetas e que o monte Eusébio
de Coronil preconizava o extermínio de todos os venezuelanos que
tivessem mais de sete anos.
"os carrascos de profissão já não bastavam",
escreve Michel Vaucaire, historiador de Bolívar. "Cometiam-se
tais atrocidades que alguns espanhóis do próprio círculo
de Monteverde se sentiam revoltados. Mas era preciso punir os rebeldes e
afastar da revolução um povo inteiro."
Essas crueldades, esses massacres, não pertencem especificamente
à época boliviana, pois há séculos que por toda
a face do globo a mesma dor faz urras o shomens - nas cruzes onde ogonizam
os últimos companheiros de Espartaco, nos cavaletes dos Inquisidores
do século negro ou nas modernas oficinas de tortura. Compreende-se
que o autor pediu emprestado à História apenas um pretexto,
um cenário, um colorido..
Emmanuel Robles
De sua autoria o Teatro
de Amadores de Pernambuco encenou "MASSACRE", com tradução
de Miroel Silveira, e direção de Graça Melo, no ano
de 1953.