Otávio Alves de Graça Melo, nascido em 1914, autor, ator de cinema, televisão e teatro, diretor dos mais credenciados no cenário brasileiro, começou a sua vida como oficial da Marinha, até o dia que foi assistir um amigo ensaiando no Teatro Fênix, a burleta "O juruna"com direção de Olavo de Barros. Como um ator faltou o diretor pediu para Graça Melo ler o papel, afim de que o ensaio não fosse prejudicado. Foi contratado imediatamente. Assim começou a sua carreira. Logo depois ingressou no Grupo " Os comediantes", participando da histórica montagem de Vestido de Noiva de Nelson Rodrigues. Daí partiu para a Companhia de Bibi Ferreira e logo depois para "Os artistas Unidos", ao lado de Henriette Mourineau. Posteriormente trabalhou na Companhia de Sandro Polonio e Maria Della Costa, participando das peças "Desejo", "No fundo do Poço" "Família Barret". Sua passagem pelo Teatro de Amadores de Pernambuco suscitou inúmeros comentários. Perguntava-se as razões que fizeram Graça Melo deixar o Sul e, de malas cheias, vir para o Recife. Tudo começou quando veio, integrando o Teatro Popular de Arte, com Maria Della Costa e Sandro Polonni, e aqui conheceu a "turma" do TAP, do TUP e TEIP, ou seja, Teatro de Amadores de Pernambuco, Teatro Universitário de Pernambuco e do Teatro dos Estudantes Israelita. Veio e gostou. O Teatro Popular de Arte terminou a temporada e ele "foi ficando, foi ficando". O Teatro de Amadores não perdeu tempo e o contratou. E o "foi ficando" criou novas raízes. O Teatro Universitário aproveitou a oportunidade e os entendimentos com o TAP ampliaram os horizontes. "A existência de Grupos de Amadores de qualidade faz do Recife um centro teatral que se iguala aos do Rio e de São Paulo. Esta minha declaração é porque os Grupos de Amadores são a "célula-mater" do Teatro. A eles se devem, não só a constante renovação de valores do teatro profissional, mas também a canalização da camada intectual e do desenvolvimento da própria platéia. Portanto, creio que um centro teatral se desenvolve na importância direta dos seus Grupos Amadores. O Teatro de Amadores de Pernambuco, os Universitários e os Estudantes Israelita são elencos que têm contado com o concurso de diretores, dos melhores que já passaram ou existem no Brasil. Isso, por si só, é uma prova do critério com que são montados os espetáculos de amadores e a razão principal dos sucessos obtidos. Mas não é só. Grandes diretores jamais conseguiram transformar amadores, bisonhos e sem talento em grandes artistas. Estou convencido de que nenhuma escola de teatro do mundo formará artistas. No máximo, conseguirá, desenvolver talentos incipientes. Eis porque os diretores que vieram ao Recife, e mantiveram, por assim dizer, um curso prático de teatro, conseguiram tão bom resultado. Os Amadores do Recife são bons de fato" E por isso tudo, ele foi ficando, deixando sua crescente careira de sucesso no sul e aqui procurando fixar suas raízes. Teve a idéia da criação de um curso universitário pra atores, diretores e dramaturgos. O curso foi realmente criado na Escola de Belas Artes do Recife, sendo Graça Melo um dos seus professores fundadores na disciplina "Interpretação". De repente como ele próprio disse em entrevista no SNT, "seguindo meu destino de nômade" deixa o Recife e volta para o sul onde trabalha ao lado de Fernanda Montenegro em "Um inimigo do povo", "Marta Sará" e com Paulo Autran em "Édipo Rei". O próprio assim define a sua vida: "sempre programada para, no máximo, a semana seguinte. Um ano sempre foi longo demais pra mim". E em entrevista declarou, como um conselho aos jovens: " É preciso antes de mais nada dar tudo de si, sem esperar receber nada. Teatro é um sacerdócio. Teatro não é uma vitrine para expor vaidades ou uma concha para esconder as frustrações. Se vocês encararem o teatro dessa maneira, não subam num palco." Talvez tenha sido esta entrevista a ultima que deu antes de falecer. Pena, perdeu o Recife um grande mestre de Teatro. E deixa ao Brasil o exemplo de amor a arte teatral.